Questão filosófica: seu esforço e determinação

A única revolução possível é dentro de nós.

Basta o esforço para se dar bem na vida?

Não, só o esforço não basta. Ninguém ficará rico apenas puxando uma carroça cheia de terra o dia todo, todos os dias. Mas é certo que você não ficará rico se você ficar o dia inteiro sem fazer nada. Ganhar dinheiro sem fazer nada é só para os muito ricos.

Portanto, é mais provável que você alcance uma situação melhor se você se esforçar.

O que é o esforço?

O esforço é um conjunto de ações feitas conscientemente por você no sentido de melhorar sua vida ou a vida das pessoas que são próximas a você (sua família por exemplo) ou até mesmo para melhorar a sociedade como um todo.

Essas ações podem ser físicas ou intelectuais.

Esforço vai além de trabalho físico ou de trabalhar mais. Esforço envolve aprender coisas novas, modificar seu comportamento ou buscar oportunidades. Qualquer coisa que seja benéfica para sua vida.

Esse esforço deve ser sobre ações sobre as quais você pode fazer alguma coisa. Estou dizendo sobre ações e não sobre intenções. É uma atitude super nobre se preocupar com a pobreza na África mas é muito mais produtivo você colaborar com a arrumação de sua própria casa.

Também estou dizendo sobre ações que você pode realmente fazer alguma coisa. Dificilmente você poderá realizar uma ação que mudará o mundo, provavelmente nem sua cidade. Mas mudar algo na sua rua ou no seu bairro já seria possível.

Mas cuidado, o esforço deve ser no sentido do bem. Você pode roubar alguém e depois disso estar financeiramente melhor. Mas ao roubar você prejudicou outra pessoa. Você também pode ser dar bem prejudicando o meio ambiente ou mesmo danificando um bem público. Mas novamente você estaria ferindo o direito de outro. Esse tipo de esforço não vale.

Ao questionarmos o que é certo ou errado estamos fazendo filosofia. Isso é uma questão sobre moral e  falamos sobre isso em nossa trilha de filosofia no Capítulo 1 - A Moral

O fator sorte

Sim, além do esforço, a sorte é um fator importante.

Existem casos de pessoas que realizaram algo muito importante para a sociedade ou para a cultura mundial e morreram desconhecidas e pobres.

Questão filosófica: seu esforço e determinação

Vincent van Gogh: detalhe de um autoretrato

Vincent van Gogh era um gênio da pintura mas sofria de episódios psicóticos e alucinações. Passou muito tempo internado em hospitais psiquiátricos. A genialidade de sua obra foi descoberta somente depois de sua morte e hoje ele é considerado um dos maiores pintores de todos os tempos.

Van Gogh não teve sorte com sua saúde mental, embora muitos afirmem que sua genialidade se deveu justamente à sua loucura.

Questão filosófica: seu esforço e determinação

Por outro lado, temos nosso Machado de Assis. Neto de escravos alforriados, nasceu epilético e pobre. Na infância vendia doces para ajudar a família e não frequentava a escola pública regularmente. Apesar de tudo isso, hoje é considerado por muitos como o maior escritor brasileiro e um dos melhores do mundo.

Machado de Assis teve a sorte de ser esforçado, inteligente e de se relacionar bem com as pessoas.

Machado de Assis tinha uma inteligência social que permitiu cultivar grandes amizades que lhe estenderam a mão e o ajudaram na sua trajetória.

Mas, e as pessoas comuns, como eu?

Você provavelmente está pensando: “os dois eram gênios, quero ver se dar bem sendo uma pessoa normal!”

Ok, só esforço não é suficiente. Você também precisará de sorte. Você não controla sua sorte, a sorte é um fator que não depende de nós. Mas precisamos criar situações onde a sorte pode se manifestar.

Eu tive uma fase em que era marceneiro e não estava me dando bem com essa atividade, estava quase desistindo. Mas se desistisse, iria fazer o que? Um dia fui contratado para instalar umas prateleiras no escritório de um publicitário. Instalei as ditas prateleiras. Comentei que já havia trabalhado com publicidade a muito tempo, antes do computador se tornar um item indispensável nas empresas e na vida das pessoas (era 1993). 

Conversa vai, conversa vem, fiz um curso de computação e aprendi a utilizar os softwares usados nas agências de publicidade. 

Voltei ao escritório das prateleiras e disse: “quero trabalhar aqui”. O cara arregalou os olhos e disse “não”. "Trabalho de graça", retruquei - era tudo ou nada. Tá bom, disse. Três meses depois já recebia um salário e dois anos depois passei de estagiária a chefe de estúdio e, finalmente, a diretor de arte. Agora estou aqui, por conta própria novamente.

De marceneiro a desenvolvedor de sistemas

Um caso de pura sorte: se um cliente não tivesse indicado um amigo que precisava de um trabalho. Se eu não aceitasse o trabalho, poderia estar realizando um outro trabalho não podendo atender prontamente o chamado. Se não fosse em um escritório de publicidade, se o dono do escritório não estivesse e eu fosse atendido por outra pessoa, nada disso teria acontecido. Isso mudou radicalmente minha vida: descobri um talento que não tinha a mínima idéia que tivesse. Retornei à publicidade gráfica no início da era da computação (na minha primeira experiência, era uma atividade totalmente manual). Tempos depois comecei a fazer sites e agora desenvolvo sistemas.

Pensar no futuro: conhecimento e poupança

Foi uma mistura de esforço e sorte. Mas veja bem, eu tinha uma reserva que me permitiu pagar um curso e trabalhar três meses sem receber. Depois mais um tempo ganhando como estagiário. No fim estava ganhando o suficiente para ser um cara feliz.

Havia poupado um pouquinho a cada mês o que permitiu realizar uma ação que mudou minha vida. Conclusão: não pense apenas no momento, tente pensar nos próximos meses ou nos próximos anos. 

Então incluímos na fórmula, além do esforço, o planejamento para o futuro.

É aí que entra a aquisição de conhecimento: aprenda hoje o que você vai usar amanhã.

O conhecimento é como o esforço: você não terá o futuro garantido se estudar muito. Mas, com certeza, as coisas ficarão bem mais difíceis sem conhecimento.

E não se trata só do conhecimento formal, o que se aprende na escola e na faculdade. Trata-se também do conhecimento sobre a vida.

Mais uma história de marceneiro.

Estava eu instalando portas numa casa recém construída. Como disse, nessa época não estava obtendo muito sucesso com meus esforços. Ao mesmo tempo havia outra equipe trabalhando na casa, era o pessoal do acabamento - instalação de pias, sanitários, azulejos, piso e por aí vai. Um dia o carro do seu Rocha, chefe dessa equipe, pifou e eu dei uma carona a ele. No caminho ele disse que não tinha o ensino fundamental completo e tal. Chegando em sua casa… a casa era enorme, tinha outro carro, uma caminhonete, um monte de filhos. E eu com meu nível universitário estava, naquele momento, bem abaixo dele, pelo menos em termos financeiros.

Seu Rocha tinha um conhecimento muito importante,  o que chamo de  “inteligência prática”. Ele sabia fazer acontecer, liderar as pessoas, negociar preços, prazos, resolver problemas. Não sei se ele teve sorte ou se em algum momento ele fez uma ação imoral ou desonesta, me pareceu uma pessoa honesta.

Afinal, o que é importante?

O mais importante é ter sempre em mente que é possível melhorar. Você não controla a sorte mas controla o seu esforço. Tenha como incentivo a simples possibilidade de atingir seus objetivos.

Defina objetivos que sejam possíveis de realizar. Em vez de um super objetivo, uma lista de objetivos mais simples e realistas. A cada pequena conquista você terá o incentivo necessário para seguir adiante.

Atingir um objetivo é um dos maiores incentivos para seguir adiante.

Dois objetivos que devem estar na base de todos os outros: adquirir novos conhecimentos e preparar financeiramente o futuro, mesmo que de pouquinho em pouquinho.

Questão filosófica: seu esforço e determinação

Tomar as decisões certas

Busque novas alternativas mas, se possível, sem deixar o caminho principal.

Fui o campeão das escolhas erradas. Tenho grande conhecimento em fazer escolhas inadequadas. Trilhei muitos caminhos diferentes e o resultado foi que durante muito tempo não me especializei em nada. Tinha muito conhecimento mas de forma dispersa. Vivemos num mundo de especialização, quem não se especializa fica para trás.

A especialização é o motor da sociedade moderna.

Vivemos numa sociedade capitalista. “Que horror”,  você pode dizer. Mas pense bem:

Se você quer pão, vá a uma padaria. Quer uma roupa nova, vá a uma loja. Quer um tablet novo, vá a uma loja ou compre pela internet.

Você não precisa saber fazer pão ou costurar. O tablet então, nem pensar, é muito complexo, impossível de fazer mesmo para uma equipe muito grande. Eu faço pão porque o pãozinho de padaria não me agrada. Além disso levo mais tempo para ir até a padaria do que para preparar um pão.

Mas antes do capitalismo não era assim. As pessoas, as famílias,  tinham que fazer tudo: plantavam, colhiam, preparavam o alimento, faziam as próprias roupas, cuidavam dos animais, construíam e faziam a manutenção de suas casas. O resultado: a produtividade era muito baixa.

Produtividade baixa igual a pouca riqueza e preços altos. 

Por exemplo: antes da revolução industrial, portanto antes do capitalismo, fazer sapatos era uma atividade super especializada e pouco produtiva, tudo era feito manualmente. O tempo gasto para uma pessoa produzir um par de sapatos era enorme o que implica em um preço altíssimo. Comprar sapatos era quase como comprar um carro hoje em dia. Hoje um carro é montado mais rapidamente que um par de sapatos na idade média.

O capitalismo, bom ou mau, aumentou a produtividade imensamente. Tanto é que a população também aumentou absurdamente desde então. Mais riqueza, mais gente. Mais gente com um conforto muito maior que antigamente (ok, a miséria continua)

Mas o preço para estarmos inseridos nessa sociedade é que precisamos ser produtivos. E para sermos produtivos precisamos ser especialistas em alguma coisa. E para sermos especialistas é preciso de conhecimento. E para obter conhecimento é preciso estudo, estudo e estudo.

Nenhum tipo de organização social garante riqueza para todos. Que tipo de sociedade, na real, consegue essa proeza? Muitas prometem mas até hoje nenhuma conseguiu.

E pior, para quem é pobre fica ainda mais difícil: é preciso mais sorte, mais esforço e… mais conhecimento, mais especialização, precisamos ser mais inteligentes que os ricos.

Questão filosófica: seu esforço e determinação

Quais são as alternativas?

Seguindo a fórmula do esforço, honestidade, conhecimento e especialização, penso que pelo menos existe uma possibilidade de melhorarmos, de pelo menos ficarmos melhor de vida e dar aos nossos filhos um pouco mais de conforto e oportunidades. Com o tempo, passando algumas gerações, pelo menos nossos descendentes terão um futuro melhor.

Meu avô: jardineiro. Meu pai: contador. Eu: publicitário, marceneiro, programador. Mas melhor ainda, minha irmã: engenheira, em apenas três gerações. (certo, hoje em dia parece ser mais difícil, mas não impossível)

A união faz a força

Você pode, na verdade deve,  otimizar a fórmula acima se associando à pessoas que têm os mesmos ideais e objetivos que você. Damos o nome de “solidariedade” a esse tipo de associação.

Essas associações podem se expandir se tornando uma associação de bairro ou profissional,  um movimento social ou até mesmo um partido político. Mas a associação que eu acho mais legal é criar uma cooperativa de trabalho ou, melhor ainda, uma empresa. Já pensou? você e seus amigos oferecendo oportunidade de trabalho à pessoas que você nem conhece? Fazer o bem não importa para quem! (interessante que existe uma corrente de pensamento que diz que quem oferece trabalho está, na verdade, explorando as pessoas)

Esse é o caminho natural afinal a alguns milhares de anos atrás vivíamos em cavernas e palhoças bem precárias.

Esforço + honestidade + conhecimento + especialização + solidariedade = vida melhor !

Outras saídas seriam:  

(1) ficar reclamando de tudo,
(2) esperar que o governo resolva nossos problemas,
(3) jogar na loteria, ou casar com uma pessoa rica, ou receber uma herança,  ou
(4) partir para a revolta, fazer uma revolução e tentar tomar o poder.

De todas essas opções, alguma lhe parece razoável?

A primeira opção com certeza não resolve. Uma variação seria ser ativista de Facebook.

A segunda parece que resolve mas me mostre um governante que realmente resolveu alguma coisa definitivamente. Costumo dizer que o governo quebra as pernas das pessoas para depois aparecer distribuindo muletas, e todos ficam contentes.

A terceira é deixar 100% para a sorte. 

Veja que em nenhuma dessas três há o fator esforço e que essas são justamente essas as mais utilizadas.

Questão filosófica: seu esforço e determinação

A quarta opção já esteve muito “na moda” mas a considero a pior de todas.  Toda revolução é, no fundo, uma imposição da vontade de uma minoria sobre a maioria. Mais ou menos como sempre foi e como é em nossa sociedade. A diferença principal é que na revolução, em vez de usar o velho processo democrático, se elimina (na verdade se assassina) quem se manifesta contrário à "revolução". O mais engraçado, se não fosse trágico, é que essas revoluções se auto proclamam como “luta pela liberdade” e mesmo como uma “luta pela democracia”. Me mostre uma revolução que realmente deu certo. 

No final, a revolução leva à alternativa (2) esperar que o governo resolva nossos problemas. Tanto a ajuda do governo como a revolução podem resolver por um tempo mas sempre, pelo menos até o momento, descambam para pior do que estava.

Questão filosófica: seu esforço e determinação

Não é possível libertar um povo, sem antes, livrar-se da escravidão de si mesmo.
Sem esta, qualquer outra será insignificante, efêmera e ilusória, quando não um retrocesso.
Cada pessoa tem sua caminhada própria.
Faça o melhor que puder.
Seja o melhor que puder.
O resultado virá na mesma proporção de seu esforço.
Compreenda que, se não veio, cumpre a você (a mim e a todos) modificar suas (nossas) técnicas, visões, verdades, etc.
Nossa caminhada somente termina no túmulo.
Ou até mesmo além...
Segue a essência de quem teve sucesso em vencer um império...
Mahatma Gandhi

Não existe sistema perfeito, só o menos pior. Se algum político disser que tem a solução, ou ele é muito ignorante ou é mau caráter. No momento não existe solução e,  se somos de pouco poder aquisitivo,  só podemos tornar menos pior.

Diferenças são normais

As pessoas são diferentes, ainda bem. Algumas são bons músicos, outras são bons médicos, outros são bons pedreiros. Algumas são mais inteligentes, outras mais cultas, outras mais práticas, outras mais pessimistas, outras mais preguiçosas. Outros são ricos, outros são pobres.

Se existem essas diferenças, por que não haveria diferenças na capacidade ganhar e de guardar dinheiro? 

Imagine um mundo onde fosse obrigado que todos ganhassem o mesmo. Será que as pessoas fariam um esforço maior do que outras para conseguir um aperfeiçoamento pessoal para o aprimoramento do conhecimento e das coisas que são produzidas? Para que se esforçar se vou ter o mesmo retorno daquele cara preguiçoso que só quer curtir a vida?

Não é preciso muita teoria, muita ideologia para saber que isso não daria certo. Uma simples fábula infantil já dá a resposta. É a fábula da formiga e da cigarra. Leia essa fábula. Veja como tem gente que cria partidos políticos, faz revoluções, por uma coisa que até crianças de cinco anos já deveriam saber que não funciona.

A sociedade é muito complexa, precisamos dessa diferenciação. 

Questão filosófica: seu esforço e determinação

Nossos índios, ainda em seu estado natural antes do contato com a civilização, são, pelo menos ao que parece, bem igualitários. Mas o funcionamento dessa sociedade necessita de bem menos conhecimento e especialização que a nossa. Pescar, caçar, fazer armadilhas, construir a oca, fazer algumas ferramentas básicas. Sem querer menosprezar esse tipo de sociedade, na verdade admiro muito. Eles estão a milhares de anos assim e poderiam continuar, quem sabe, indefinidamente. Mas um índio pode ter todo o conhecimento do seu grupo. Se não todo, uma boa parte. Pouca especialização igual a pouca diferença social.

Penso que, na verdade, a "desigualdade social" não é o verdadeiro problema, já que, teoricamente, poderíamos ter um povo em que todos fossem pobres e, portanto, sem desigualdade social. 

O problema, a meu ver, é a miséria e a pobreza. Então temos a imoralidade dos absurdamente ricos, e mesmo da "turma do meio", que não estendem a mão a quem necessita - e necessitam não por falta de esforço mas por falha da sociedade.

Mas a questão é: dar esmolas não resolve, o governo fazer programas populistas e assistencialistas também não resolve. Isso é válido apenas emergencialmente. 

Quem sabe a resposta venha de um antigo provérbio: 

"Em vez de dar o peixe, mostre o caminho para o rio e ensine-os a pescar "

A diferença é necessária, mas que ela não seja tão absurdamente diferente. Eliminar a miséria. Miséria eliminada: eliminar a pobreza. Conseguimos isso através de nosso esforço, com um pouco de política.

Esforço, sorte, conhecimento, relacionamento...

Se você nasceu de família com poucos recursos financeiros, sinto muito, a vida será dura: você terá de se esforçar, tomar as decisões certas, obter conhecimento, se especializar, ter bons relacionamentos, se associar e ter um pouco de sorte, ou seja, você deve se esforçar para ser melhor do que os outros.

Se esforçar para ser melhor do que os outros com honestidade é bom para todo mundo. Significa que você está fazendo algo muito bem. Como isso pode ser ruim?

Com todos se esforçando para ter uma vida melhor, o resultado final será a melhora de vida para todos.

Abandone a inveja, abandone o egoísmo. Trate de fazer o melhor para você de modo que a sua melhora se esparrame para quem te cerca.

Lute sua batalha! Torne-se um herói!

Carlos F.


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Carlos Surf
14/09/2019 09:11
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