A rosa e a borboleta | Unha-de-Fome

 A rosa e a borboleta

Uma vez uma borboleta se apaixonou por uma linda rosa. A rosa ficou comovida, pois o pó das asas da borboleta formava um maravilhoso desenho em ouro e prata. Assim, quando a borboleta se aproximou voando da rosa e disse que a amava, a rosa ficou coradinha e aceitou o namoro. Depois de um longo noivado e muitas promessas de fidelidade, a borboleta deixou sua amada rosa. Mas ó desgraça! A borboleta só voltou muito tempo depois.

– É isso que você chama fidelidade? – choramingou a rosa. – Faz séculos que você partiu, e além disso você passa o tempo de namoro com todos os tipos de flores. Vi quando você beijou dona Gerânio, vi quando você deu voltinhas na dona Margarida até que dona Abelha chegou e expulsou você… Pena que ela não lhe deu uma boa ferroada!

– Fidelidade!? – riu a borboleta. – Assim que me afastei, vi o senhor Vento beijando você. Depois você deu o maior escândalo com o senhor Zangão e ficou dando trela para todo besourinho que passava por aqui. E ainda vem me falar em fidelidade!

Moral: Não espere fidelidade dos outros se não for fiel também.


Unha-de-Fome

Depois duma vida de misérias e privações Unha-de-Fome conseguiu amontoar um tesouro, que enterrou longe de casa, num lugar ermo, colocando uma grande pedra em cima. Mas tal era o seu amor pelo dinheiro, que volta e meia rondava a pedra, e namorava como o jacaré namora os seus próprios ovos ocultos na areia. Isto atraiu a atenção dum vizinho, que o espionou e por fim lhe roubou o tesouro.

Quando Unha-de-Fome deu pelo saque, rolou por terra desesperado, arrepelando os cabelos.

– Meu tesouro! Minha alma! Roubaram minha alma! Um viajante que passava foi atraído pelos berros.

– Que é isso, homem?

– Meu tesouro! Roubaram meu tesouro!

– Mas morando lá longe você o guardava aqui, então? Que tolice! Se o conservasse em casa não seria mais cômodo para gastar dele quando fosse preciso?

– Gastar do meu tesouro!? Então você supõe que eu teria a coragem de gastar uma moedinha só, das menores que fosse?

– Pois se era assim, o tesouro não tinha para você a menor utilidade, e tanto faz que esteja com quem o roubou como enterrado aqui. Vamos! Ponha no buraco vazio uma pedra, que dá no mesmo. 

Moral: Que utilidade tem o dinheiro para quem só o guarda e não gasta?

Do livro: Fábulas – Monteiro Lobato – Editora Brasiliense


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